O que é representatividade pan positiva?
É verdade que pansexualidade é muito invisibilizada na mídia e qualquer sopro de representatividade nós, pans, nos empolgamos pela possibilidade de visibilidade. Porém, você sabe quais os momentos em que essa representatividade de fato nos representa? E em quais momentos ela é nociva?
Para uma representação positiva, considero que os elementos necessários são:
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o uso da palavra “pansexual” e/ ou “panromântica” na obra
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a não associação da pansexualidade à crimes sexuais como zoofilia, pedofilia, necrofilia etc
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não tratar pansexualidade como algo superior ou mais evoluído
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o uso de definições corretas
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personagem com personalidade própria
bandeira pansexual
símbolo pansexual
Exemplos de representatividade nociva:
Em Branco Letal, quarto livro da série policial escrito por J. K. Rowling sob pseudônimo, há uma personagem pansexual:
“[...] ela já havia explicado a Robin que se identificava ao mesmo tempo como não-binária e pansexual, porque a monogamia, em resumo, era um instrumento de opressão do patriarcado, um raciocínio que Robin desconfiava ter se originado de Jimmy [...]”
Mas, vindo de J.K. Rowling, nada é bom.
Flick é uma personagem extremamente problemática e constantemente considerada burra e influenciada pelo namorado, Jimmy. Quando é abordado sua sexualidade, é sugerido que ela não é realmente pansexual, mas sim diz ser por influência de um homem considerado imoral pelos protagonistas.
Flick não possui personalidade própria, a história tão pouco traz validação de sua sexualidade ou uma definição correta de pansexualidade, pois associa ser pan à ser não-monogâmico.
Em Big Mouth, série animada da Netlix, é apresentado uma personagem pansexual na terceira temporada.
“Eu jogo futebol, eu sou da corvinal e vocês, normalzões, não se assustem com o que eu vou dizer, mas eu sou pansexual” é assim que Ali se apresenta. Em seguida, um personagem diz que ela foi expulsa da antiga escola por transar com uma freira — e é importante lembrar que a garota é menor de idade, o que torna tudo pior. Quando questionada sobre sua pansexualidade, Ali acusa bissexualidade de ser binarista e trata transgeneridade como um terceiro gênero, dizendo ser pan por gostar de pessoas trans.
Essa cena traz tudo de ruim que uma personagem pan poderia ter. Definições erradas de sexualidade e gênero, transfobia, associação de pansexualidade à promiscuidade. Além disso, trata ser pan a ser superior e desconstruído, especialmente ao chamar bissexuais de binaristas.
Outro tipo de representação que pouco ou nada ajuda na visibilidade pansexual é quando não é dito na obra que o personagem é pan, muito menos é deixado implícito ou traz sugestões da sexualidade do personagem, mas, mesmo assim, quem participou da criação do personagem diz, em alguma rede social ou entrevista, que aquele personagem é pan.
É uma tática usada para não desagradar panfóbicos que consomem aquela obra e, ao mesmo tempo, dar migalhas de representatividade para pansexuais — e, quando se está faminto, é difícil perceber que receber apenas uma colherada quando poderia ganhar um prato cheio não é algo tão bom assim.
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